As apresentações da Filarmônica de Minas Gerais costumam ser marcadas por uma integração absoluta entre o público e os músicos. E ontem não foi diferente, numa performance memorável da orquestra. O público compareceu em massa à Praça da Savassi, no domingo ensolarado de outono, para assistir ao primeiro concerto da série Filarmônica na Praça, depois de dois anos sem eventos públicos devido ao isolamento social para controlar a COVID-19.
O repertório teve um sabor bem brasileiro. “Estamos celebrando 200 anos da Independência do Brasil e 100 anos da Semana de Arte Moderna, então, isso tudo foi pano de fundo para mostrar as raízes brasileiras, a influência do folclore brasileiro na música sinfônica”, definiu o maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente da filarmônica. A manhã de temperatura agradável favoreceu a apresentação, que foi ao ar livre.
‘Ficamos muito tempo em casa. Poder estar com minha família neste momento, sem máscara, é emocionante’
Isabela Soares, com o marido, Frederico Delazari, e o filho, Bernardo
O sentimento de alegria de retornar aos eventos presenciais tomou conta do público que lotou a Praça da Savassi. Mechetti regeu a orquestra com 85 músicos, que entraram em comunhão com a plateia de cerca de 7 mil pessoas. “É um sentimento de muita alegria. Primeiro, por retornar às atividades da filarmônica em local aberto e com a recepção calorosa que o público deu”, afirmou. Ele destacou a maneira atenta com que as pessoas escutaram o repertório. “Durante a execução das músicas, embora houvesse milhares de pessoas, houve silêncio. As pessoas ouviram nosso programa e depois aplaudiram de forma calorosa. Tanto nós estamos felizes em retornar quanto o público de poder apreciar a beleza da música sinfônica da filarmônica”, avaliou.
O programa começou com o Hino Nacional, com todos se levantando em reverência à obra. A cada momento do programa, o maestro Fabio Mechetti apresentava informações sobre as composições. A abertura foi com Alberto Nepomuceno, “O Guaratuja: prelúdio” e “Batuque”, que são obras surpreendentes. Depois, o maestro escolheu “Tiradentes”, de Eliazar de Carvalho, uma peça muito lírica que permitiu a contemplação do público, bem concentrado.
‘Essa apresentação vem em um momento em que a pandemia está normalizada e todos estamos com desejo de ter uma vida livre de novo’
Andreia Furtado
Seguiu-se um momento mais experimental, marcado por uma identidade bem brasileira, com motivos folclóricos: “Congada”, de Francisco Mignone, “Ponteio”, de Gilberto Mendes, e “Mourão”, de Guerra-peixe. Para finalizar, Carlos Gomes, com “Fosca: sinfonia” e “O Guarani: Protofonia”, composições muito alegres. Esta última o maestro brincou, ao qualificá-la como “o segundo hino nacional brasileiro”. Depois de muitos aplausos e muitos gritos de “bravo”, a filarmônica apresentou “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, e “Tico-tico no fubá”, de Zequinha Abreu.
Era possível sentir a satisfação das pessoas por poder voltar a se reunir, com a queda dos indicadores da COVID-19. A professora Isabela Soares, de 39 anos, foi com o marido, Frederico Delazari, e o filho, Bernardo, de oito meses. “Muito importantes esses momentos abertos ao público, eventos culturais que a gente pode trazer a família e todo mundo participa. Foi maravilhoso. Fiquei emocionada”, afirmou. Ela lembrou de como o concerto simboliza a retomada depois de períodos tão difíceis causados pela pandemia. “Ter contato com outras famílias, outras pessoas, é muito bom. Ficamos muito tempo em casa. Poder estar com minha família neste momento, sem máscara, é emocionante”, avaliou ela, ao observar que era o primeiro evento público do qual participava depois do isolamento imposto pelo novo coronavírus.
‘É um sentimento de muita alegria. Retornar às atividades em local aberto e com a recepção calorosa que o público deu’
Fabio Mechetti, maestro
EM FAMÍLIA
A administradora de empresas Andréa Furtado de Almeida, de 45 anos, classificou o concerto como magnífico. “Principalmente, porque essa apresentação vem em um momento em que a pandemia está normalizada e todos estamos com desejo de ter uma vida livre de novo. Aí, ter esse momento na Praça da Savassi com a filarmônica é muito bonito”, avaliou.
Ela foi acompanhada da irmã, Micaela, de 22 anos, e com a mãe, Marilândia, de 70. “Minha mãe perdeu o marido há um ano e ele vivenciava muito a música clássica. Diariamente, na minha casa, a gente escutava música clássica”, disse. Para lidar com a perda, a irmã se refugiava no “quarto da ópera do papaizinho” na casa. “Esse momento, pra ela e para minha mãe, foi muito especial. Vivenciar todo esse momento e trazer a lembrança do meu padastro”, disse.