Mais um crime em BH expõe a escalada do feminicídio

Marcas de sangue no asfalto
Marcas da violência: sangue no chão denuncia o crime, cometido quando a vítima estava ao lado da filha, que foi entregue à avó paterna (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 

Mais de 30% das mulheres brasileiras com mais de 16 anos sofreram algum tipo de violência por parte dos seus parceiros ou ex-companheiros em 2022, no Brasil. Os dados são de uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, feita pelo DataFolha e publicada ontem (2/3). O levantamento aponta que todas as formas de violência contra a mulher aumentaram no último ano numa escalada preocupante. Na escala máxima da gravidade da violência contra as mulheres, o total de crimes de feminicídio cresce neste início de ano tanto em Minas Gerais como um todo quanto na capital mineira, apontam dados das autoridades do estado.  Na madrugada de ontem, em Belo Horizonte, uma mulher de 39 anos morreu depois de ser atropelada por um caminhão em um posto de combustível, no Anel Rodoviário, na altura do Bairro Olhos D’Água, na Região Oeste de Belo Horizonte. O principal suspeito do crime é o marido dela.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil e, inicialmente, está sendo tratado como feminicídio. A equipe do Estado de Minas foi ao local do atropelamento e notou que o cheiro de sangue ainda era muito forte na manhã do dia do crime. A perícia esteve no local e o corpo da mulher foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML).
De acordo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, em janeiro de 2023 três mulheres foram vítimas de tentativas de feminicídio na capital mineira. O número triplicou em relação ao mesmo período de 2022, quando foi registrado um feminicídio tentado e um consumado. Em Minas Gerais, apenas em janeiro, o crime de feminicídio tirou a vida de 11 mulheres, um aumento de 55% em relação ao ano passado, quando o total foi de sete.  Outras 14 mulheres sobreviveram a tentativas de assassinato praticadas principalmente por homens com que se relacionavam ou ex-companheiros, um aumento de quase 15% em relação aos 12 casos do ano anterior.
No caso da madrugada de ontem, o suspeito fugiu do local, e até o fechamento desta edição não havia sido preso. A mulher estava ao lado da filha, que após o crime, foi entregue à avó paterna. O crime ocorre menos de uma semana depois de outra mulher ter sido atacada e, felizmente, conseguido sobreviver. A vítima, de 37 anos, foi baleada quatro vezes durante uma discussão com o namorado, em 24 de fevereiro, no  Bairro Liberdade, na Região da Pampulha, na capital mineira. A mulher conseguiu fugir e foi socorrida por moradores até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela foi levada para o Hospital João XXIII com ferimentos no rosto, em um dos ombros e na coxa esquerda.
Dentro do apartamento do suspeito, a polícia encontrou uma arma, que pode ter sido usada no crime. Ele foi preso três dias depois do crime. Conforme a Polícia Civil, as investigações das circunstâncias e motivos do crime ainda estão em andamento. “A vítima segue hospitalizada e sem condições de ser ouvida”.

AGRAVAMENTO

O levantamento realizado pelo Datafolha, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta um agravamento de todas as formas de violência contra a mulher no país, em 2022. A pesquisa foi feita entre os dias 9 e 13 de janeiro e ouviu 2.017 pessoas, em 126 municípios.  Conforme o levantamento, 33,4% das brasileiras maiores de 16 anos, ou seja 21,5 milhões de mulheres,  foram vítimas de violência física ou sexual por parte dos parceiros ou ex. Os números são maiores que a média global, de 27%, divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre as principais formas de violência provocadas por parceiros ou ex, a psicológica, com 21 milhões de casos, é a mais relatada. Em seguida está a violência física, com 15,8 milhões de casos, e a sexual, com 13,6 milhões. Além disso, 28,9% das brasileiras, ou seja, 18,6 milhões, sofreram algum tipo de violência ou agressão. Sendo que desse total, 14,9 milhões foram violências verbais; 8,7 milhões perseguição, 7,6 milhões agredidas com socos ou chutes, 3,5 milhões foram espancadas ou sofreram tentativa de espancamento, e 3,3 milhões foram ameaçadas com faca ou com arma de fogo.
A pesquisa mostra, ainda, que a proporção de mulheres negras vítimas de violência é maior do que entre as brancas. O levantamento mostra que 45% das mulheres negras afirmam que já sofreram alguma violência ou agressão ao longo da vida, número que cai para 36,9% entre brancas.
A diferença continua no caso de violência física severa. Enquanto 6,3% das negras afirmam que já foram vítimas de espancamento, 3,6% das brancas sofreram esse tipo de ataque . Algo similar acontece entre as vítimas de ameaça com faca ou arma de fogo – negras (6,2%) e brancas (3,8%).

Com Estado de Minas