A Serra de Curral del-Rei, depois apenas Serra do Curral, sempre impressionou viajantes pelos sertões do Brasil e forasteiros que chegavam ao arraial devido à “sua paisagem inesquecível, um local agradável e aconchegante”, conforme relatos registrados em diários e anotações.
Assim, passou a fazer parte da memória individual e coletiva daqueles que viviam ou passavam pela localidade.
Seguindo os passos dos pioneiros, a bandeira de João Leite da Silva Ortiz (1674-1730) alcançou os contrafortes da Serra das Congonhas, “que, mais tarde, pelas constantes levas de gado que ali estacionavam para o comércio, e, principalmente para pagamento de impostos, deveria adaptar a designação que ainda conserva de Serra do Curral del-Rei”.
O bandeirante, surpreendido pela magnífica paisagem que avistara e com os aspectos atraentes da Serra das Congonhas, apossou-se dessas terras.
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Nas encostas da Serra das Congonhas foi então fundada a Fazenda do Cercado por Ortiz, dedicada à lavoura e à criação de gado.
“A posse das terras, onde mais tarde seria assentada parte da cidade de Belo Horizonte, foi oficialmente concedida a Ortiz, por meio de Carta de Sesmaria, pelo governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, passada no Arraial de Caeté aos 19 de janeiro de 1711”.
O documento estabelecia ser da posse do bandeirante “toda a terra da fazenda, começando sua data ao pé da Serra das Congonhas até Lagoinha, estrada que vai para os currais da Bahia”.
O dossiê explica ainda que “desde o século 18, já se tornava perceptível que a Serra do Curral havia se constituído como referência local, sendo considerada marco geográfico usado pelo governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho para demarcar os limites das principais fontes de abastecimento das zonas auríferas”.
Enquanto Vila Rica (atual Ouro Preto), Sabará, Serro Frio (Serro) e outras localidades se tornavam centros populosos e ricos pela exploração permanente das minas de ouro, o local da Fazenda do Cercado se desenvolvia em torno das atividades agropastoris, abastecendo as zonas auríferas.
O progresso das terras de Ortiz logo atraiu moradores para a região do Cercado.
“Admitindo agregados em seu latifúndio, o bandeirante deu início ao povoamento dessa região, e, aos poucos, um pequeno arraial começou a se estruturar ao longo do território próximo à Fazenda do Cercado, originando pequenos aglomerados urbanos devido à abundância de água, topografia adequada, solos férteis e uma bela paisagem”.
Curral del-Rei
Batizado com o nome de Curral del-Rei, o arraial pertencente à Capitania de Minas, e posteriormente incluído na comarca do Rio das Velhas, cuja sede era Sabará, continuou a crescer gradativamente “agora não apenas em função da fama das minas de ouro que ganhava estrada, mas em consequência do desenvolvimento da agricultura, pecuária e comércio”.
Virou ponto de parada de viajantes e forasteiros”. Começou ali o processo ainda incipiente de migração e de crescimento demográfico em função “da salubridade do lugar, o pitoresco do panorama e a boa posição para intercâmbio comercial”.
Surpresas nas alturas da Serra do Curral
A Serra do Curral é muito mais do que símbolo de BH, local escolhido em plebiscito em 1995, cartão-postal e testemunha do crescimento urbano. De forma surpreendente, por ser alvo de atividades minerárias e especulação imobiliária, ainda guarda tesouros escondidos.
É o caso de um muro de pedras, com mais de dois quilômetros de extensão, que se estende no alto da Região Leste da capital.
Conforme o Estado de Minas mostrou aos leitores em 2011, trata-se de monumento entremeado por flores roxas e amarelas e os cactos típicos da vegetação no Quadrilátero Ferrífero.
Tem cerca um metro de altura ao longo de mais de dois quilômetros de extensão, seguido de um valo, com cerca de dois metros de profundidade.
A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, informa que o muro está inserido na área protegida do conjunto paisagístico da Serra do Curral, tombado pelo município em 2003.
Investigações de um estudo prévio realizado pelo Laboratório de Arqueologia da UFMG, em 2011, indicam que a área faz parte da estrutura de uma antiga fazenda, servindo como divisão de propriedades ou para impedir a passagem de gado.
Além disso, há um processo de tombamento específico em aberto, pelos indícios de que o bem se enquadra na categoria de patrimônio arqueológico urbano.